quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Praticando o desapego - Parte II


(Continuação)
Depois de vários dias, voltei a examinar meu armário. O vestido continuava lá, esperando uma oportunidade para ser usado. Pendurado num cabide, parecia zombar de mim.
Comecei a refletir melhor. Será que vale a pena ocupar o espaço do meu armário com algo que, provavelmente, nunca mais será usado? O vestido é bonito, de boa qualidade, fica bem em mim, mas, provavelmente, ainda vai demorar muito tempo até que eu tenha uma nova oportunidade de vesti-lo novamente. E quando (ou se) esse dia chegar, ele pode muito bem já não servir em mim. Pode estar roído pelas traças, ou simplesmente fora de moda. Manchado pelo tempo, de tanto ficar guardado. Às vezes, a gente supervaloriza algo, idealiza  uma ocasião especial, e ela demora tanto a chegar, que quando acontece, já não terá tanta importância...
Então, tomei uma decisão. Preciso abrir espaço em meu armário para novas roupas, aquelas que posso usar com mais frequência, sem ter que esperar uma ocasião especial. Aquelas que, mesmo simples, façam com que eu me olhe no espelho e me sinta bem. Que eu não precise esperar séculos para usar!
Tirei o vestido do armário, mesmo a contra-gosto, mas com a certeza de ter tomado a decisão certa, apesar de não me sentir muito feliz com isso, mas de certa forma, aliviada por ter tido a coragem de me desapegar de algo que me é tão precioso.  Se um dia aparecer uma ocasião especial, vou a alguma loja de aluguel de roupas  e encontrarei algo do meu agrado. Talvez. 

(Esclarecendo: o vestido ao qual me refiro não é um vestido de noiva, se é que passou pela cabeça de alguém...)

domingo, 21 de agosto de 2011

Praticando (ou tentando praticar) o desapego - Parte I

Hoje resolvi fazer uma faxina no meu armário. Dizem que quando guardamos algo por mais de um ano e não sentimos falta, é porque, na verdade, não precisamos daquilo. Concordo, em parte. Eu sou daquelas pessoas que gostam de guardar tudo, de cartas a fotos, ingressos de shows e cinema, boletins escolares dos filhos, mensagens escritas por eles em ocasiões especiais, e por aí vai... Outro dia, mexendo nos meus guardados, encontrei – pasmem – a minha primeira “prova final” do jardim de infância!!!  Claro que essa não foi guardada por mim e sim por  meus pais, e talvez eu tenha herdado deles essa mania.  Mas eu gosto de em uma hora qualquer,  pegar esses objetos guardados e relembrar aqueles momentos que foram marcantes para mim. É claro que muitas vezes, isso vira uma verdadeira bagunça em casa, e eu  teria que ter muitos armários para poder guardar tudo que gostaria. Então, vem a necessidade de fazer aquela triagem e escolher o que realmente tem mais significado.
Mas, na verdade, a minha faxina de hoje foi com as roupas. Resolvi fazer uma seleção daquilo que realmente ainda posso usar, e me desapegar daquelas que estão apenas servindo para entulhar o meu armário. Fiquei parada diante daquele amontoado de roupas. Muitas delas, surradas de tanto usar. Outras, pouco foram usadas, pois foram compradas na minha época de obesa e fiquei feliz por não precisar mais delas!  E algumas, nem cheguei a usar, pois depois de comprar descobri que não me sentia bem dentro delas. Certamente, todas elas serão bem aproveitadas no bazar que faremos no trabalho, para angariar fundos para as comemorações de final de ano com a comunidade.
Enquanto separava aquelas roupas, me deparei com um vestido, comprado para uma ocasião especial e que ficou, durante “anos”, guardado, esperando a hora certa para ser usado. Cheguei a pensar que talvez nunca o usasse. Mas o dia chegou e eu o usei, uma única vez! E posso assegurar que é o vestido mais perfeito que já vesti. Simples, mas elegante, e me cai como uma luva. Depois que o usei, fiquei esperando uma nova oportunidade para vesti-lo novamente, mas há tempos que ele está guardado, e essa ocasião não aparece. Fiquei pensando então, se não está na hora de entregá-lo de vez para o bazar. Talvez alguém possa fazer melhor uso dele, talvez ele fique melhor em outra pessoa. De que adianta ele ficar no meu armário, se não tenho como  usá-lo?
Tirei o vestido do armário e resolvi experimentá-lo mais uma vez. Vi minha imagem refletida no espelho e decidi. Não vou me desfazer dele. Não agora. Vou esperar mais um tempo. Pode ser que essa ocasião especial para usá-lo nunca mais reapareça. Ou talvez, quando reaparecer, ele não caiba mais em mim... Ou quem sabe, eu nem tenha mais tempo para usá-lo. Tudo é possível. Mas, por enquanto, eu não consigo ainda imaginar esse vestido no corpo de outra pessoa...