domingo, 4 de setembro de 2011

História de Assombração(zinha)


Todo mundo ja ouviu falar em histórias de almas penadas que assombram os hospitais. E existem pessoas que se deliciam inventando histórias, que quando passam de boca em boca, terminam se transformando em verdadeiros roteiros de filmes de suspense, com fantasmas arrastando correntes pelos corredores. Pessoas sugestionáveis costumam acreditar em tudo, morrem de medo de ficar sozinhas e um simples barulho vindo de qualquer lugar, no silêncio da madrugada, vira algo pavoroso. Sempre fui muito cautelosa em acreditar em tudo, acho que existe mesmo é muito exagero, criado muitas vezes pelo medo das pessoas. Eu mesma já passei por uma dessas.
Eu era estudante de medicina e dava plantões na Maternidade Cândida Vargas, em João Pessoa, na época, chamada também “Maternidade do INAMPS”. Era a maternidade de referência no Estado, onde aconteciam  dos partos mais simples aos mais complicados, e quem quisesse aprender obstetrícia tinha que quase obrigatoriamente passar por lá. O corpo clinico dos plantões se constituía dos médicos “staffs”, os residentes, os internos (estudantes do último ano de medicina), e por último, os acadêmicos a partir do quarto ano. Era muita gente, concordo, mas todo mundo tinha oportunidade de fazer alguma coisa, pois como já falei, o movimento era muito grande. Posso dizer que o período que passei por lá foi fundamental para que eu adquirisse muito dos conhecimentos necessários para iniciar minha vida profissional. Ainda me lembro do primeiro parto que fiz, quando tomei um verdadeiro banho de líquido amniótico!! (Isso é considerado um verdadeiro “batismo” para quem quer fazer obstetrícia).
Os plantões eram de 24 horas, cansativos, mas terminavam sendo divertidos. Nos poucos momentos de folga, aproveitávamos para ouvir as histórias das funcionárias antigas da maternidade, que tinham o maior prazer em nos contar casos de almas que apareciam nos corredores, principalmente depois de meia noite. E eu, apesar de não acreditar em tudo, não gostava muito de andar sozinha pelos corredores de madrugada. Durante o dia, e até meia noite, todo mundo trabalhava junto, e depois, o plantão era dividido em dois horários. Uma turma ia descansar até as 3:30h, quando assumia o lugar dos que tinham ficado direto. Eu não gostava de ir descansar no primeiro horário, pois geralmente, devido ao cansaço, demorava para adormecer e quando isso acontecia já era hora de levantar.
Naquela noite, o plantão estava calmo, depois de um dia agitado. Poucos estudantes haviam comparecido e  tivemos que escolher, através de sorteio, quem iria dormir no primeiro horário. Eu e Rosângela fomos as premiadas.
Depois da ceia das 23 horas, resolvemos nos recolher, já que estava tudo calmo. A maternidade é enorme e a noite, todo o movimento se concentrava no andar superior, onde ficavam as enfermarias, salas de pré parto,  salas de parto e centro cirúrgico. Não sei se hoje ainda é assim. No andar térreo, ficavam a sala de admissão das pacientes, ambulatório,  a parte administrativa, algumas salas de aula, e no final do corredor, os dormitórios dos médicos e dos estudantes. Durante o dia, tudo era muito movimentado, mas a noite, aquilo virava um verdadeiro deserto, pois a única coisa que funcionava era a sala de admissão, e só descíamos quando chegava alguma paciente.
Eu e Rosangela caminhávamos temerosas pelos corredores desertos, depois de ouvirmos mais uma daquelas histórias de fantasmas, contadas por uma funcionaria, na hora da ceia. O silêncio e a penumbra dos corredores  dava um ar meio fantasmagórico ao ambiente. Mas estávamos em dupla, e uma dava segurança à outra...
Entramos no quarto deserto, e nos preparamos para tentar dormir um pouco. O quarto era enorme, cheio de camas, distribuídas paralelamente, todas vazias, pois o resto do pessoal havia ficado trabalhando. Escolhemos nossas camas, próximas uma da outra e depois daquele ritual que todo mundo faz antes de dormir, resolvemos nos deitar e aproveitar o máximo daquele pouco tempo que tínhamos para descansar. Ainda conversamos durante alguns minutos, até que nos demos boa noite e fechamos nossos  olhos...
Eu ainda não havia conseguido dormir, quando de repente, alguém acendeu a luz do quarto. A principio, imaginei que fosse uma das nossas colegas, que viera nos chamar para ajudar em alguma cirurgia. Continuei com os olhos fechados, esperando que alguém falasse, porém, o quarto continuou no maior silencio... Na cama ao lado, Rosangela também pensava a mesma coisa. Quinze, trinta segundos, um minuto, e nada!!! Comecei a estranhar aquele silêncio e a luz continuava acesa. Abri os olhos, e não vi ninguém dentro do quarto. O coração começou a acelerar e olhei para a cama ao lado, onde Rosangela parecia dormir. Na mesma hora, ela, que também estava até aquele momento esperando a mesma coisa que eu, levantou a cabeça e olhou para mim, sem falar nada, mas indagando com os olhos: “Quem acendeu a luz?”
Sem falar nada, e quase ao mesmo tempo, nos levantamos e saímos em disparada, correndo pelos corredores da maternidade, que pareciam não ter fim!! Não sei quem correu primeiro, mas acho que foi ela, porque corria na minha frente, e eu, sem conseguir alcançá-la, tinha a sensação nítida de que alguém corria atrás de mim. Conseguia até mesmo sentir a sua respiração!!  
Não sei quantos segundos demoramos para chegar lá em cima, nem lembro como subimos as escadas. E quando, ofegantes, conseguimos contar à turma o que havia acontecido, todo mundo caiu na risada e uma das nossas colegas falou: “Não quero decepcionar vocês, mas a alma que vocês viram é a lâmpada fluorescente que está com defeito”...
Lâmpada com defeito ou alma do outro mundo, o certo é que naquela noite, eu e Rosângela não voltamos mais para o quarto e trabalhamos direto, até as 7h da manhã!

3 comentários:

  1. ...a lâmpada com defeito é? mas e a nítida sensação de alguém correndo atrás????fez bem em voltar a trabalhar,rsrsrsrsrs, sou uma medrosa,rsrsrsrs
    bj

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  2. Eu estava lá, foi tudo muito divertido e fruto de nossa vontade de embarcar no ultraleve. Aquele momento em que voce deseja realizar um sonho. Pois bem, nós realizamos. O poder da mente é fantastico, concentre no seu objetivo que voce quer realizar. Nós sonhamos e voamos. Beijos Veronica,eu voce nao podemos para de sonhar. Vera

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  3. O comentário acima era pra ter sido postado na história "De carona num ultraleve". Mas valeu, Vera, foi muito divertido sim, e pode apostar, continuo sonhando...

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