domingo, 9 de outubro de 2011

Praticando o desapego - Parte III (Final)

(Antes de ler, aconselho a leitura das partes I e II de "Praticando o Desapego")


Não sei se com as outras pessoas acontece o mesmo, mas sempre que eu me desfaço de algo que estava guardado, sem uso, achando que não vou mais precisar daquilo, poucos dias depois, acontece algo e eu me lembro do que me desfiz e penso: “não deveria ter jogado fora”...
Com o vestido foi mais ou menos assim. Só que eu não havia ainda jogado fora. Apenas tinha tirado do armário, colocado em um cantinho longe dos meus olhos, decidida a não ter mais expectativas com relação a esperar outra ocasião de usá-lo. E logo depois de fazer isso, me aparece uma nova oportunidade!
Fiquei eufórica, feliz por não ter me desfeito ainda daquela preciosidade. Finalmente eu teria uma nova chance! E certamente, como da outra vez, eu deveria me sentir muito bem com ele. Nem pensei em procurar outra roupa. Até tenho outras opções, mas o que eu queria mesmo era usar aquele vestido. Corri para o local onde o  havia guardado, lá no fundo do baú, e depois de alguns minutos de procura, encontrei o que queria. Na hora, tão ansiosa que estava por usá-lo novamente, nem valorizei o fato de não estar no mesmo lugar onde eu havia guardado. Não me importei muito com isso, achando que talvez, eu mesma tivesse confundido e guardado em um lugar diferente do que eu lembrava.
Com cuidado, retirei o vestido do saco onde havia guardado. Acariciei o tecido macio, sentindo a felicidade de poder novamente ter a oportunidade de vesti-lo. Resolvi experimentá-lo novamente, afinal, depois de tanto tempo, talvez fosse preciso fazer alguns ajustes...
Vesti o vestido, e num impulso, corri para frente do espelho. Observei novamente minha imagem refletida, e vi que ele realmente ficava bem em mim. Como eu me sentia bem com ele!! Mas, após alguns minutos de observação  algo começou a me incomodar. Não sabia bem o que, mas algo não estava certo. Comecei a sentir algo estranho, e um cheiro desconhecido começou a penetrar nas minhas narinas. Eu não reconhecia esse cheiro. Não era meu. Procurei ao meu redor, tentando encontrar algo que justificasse o que estava sentindo, mas não identifiquei nada diferente. Parei um pouco e novamente analisei minha imagem no espelho. O vestido, apesar de a princípio parecer igual, tinha algo de diferente. As cores não pareciam as mesmas. Parecia um pouco desbotado. Poderia ter sido pelo tempo que ficou guardado.  Mas não era só isso. Aquele cheiro continuava incomodando minhas narinas. E percebi que o cheiro vinha dele, do vestido. Sim, era um cheiro diferente, não era meu, era de outra pessoa!!! Então entendi. Alguém pegara meu vestido e usara, sem a minha permissão. E deixara sua marca nele. Uma marca tão forte, que agora me incomodava muito. E, observando melhor, identifiquei outras marcas, que provavelmente não eram da mesma pessoa. Ou seja, enquanto eu esperava a oportunidade certa para usá-lo, varias pessoas o haviam usado, provavelmente sem o mesmo zelo que eu teria com ele. E deixaram marcas que dificilmente eu iria conseguir apagar. Tiraram dele toda aquela magia, aquele encantamento. Já não parecia ser o mesmo vestido. E não existe nada mais constrangedor do que você usar uma roupa, achando que é um modelo único e de repente descobrir que ela foi usada recentemente por outra pessoa. Ou chegar em uma festa e descobrir que alguém copiou o seu modelito “exclusivo”. Acho que muita gente já passou por esse constrangimento.
Nesse caso, pensei, melhor mesmo me desfazer dele. Entregá-lo de vez para o bazar, ou mesmo para uma loja de aluguel de roupas. De lembrança, vou guardar a foto que tirei quando o usei pela primeira vez. E um dia, quem sabe, ao passar por uma vitrine, algo me chame atenção e eu compre um novo vestido. Quem sabe...

4 comentários:

  1. Eu fiquei furiosa com alguém ter usado seu vestido... Com certeza não foi com sua permissão, foi?

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  2. Com certeza, NÃO foi com a minha permissão!!

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  3. Eu acho que esse vestido mudou de cor pq andou demais ,se perdeu no tempo...Mas foi ótimo vc tê-lo guardado, e principalmente ter tido a oportunidade de prova-lo novamente e ver o que a gente faz pra viver um sonho,que a gente passa a vida sonhando uma ilusão de como teria sido.E vc viveu o sonho...isso é para poucos, viu?

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  4. É, Sarita... você entendeu mesmo o espírito da coisa...

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