sexta-feira, 13 de maio de 2011

Entendendo nossos Hieróglifos

Outro dia, mexendo no “baú de recordações”, encontrei um caderno meu dos tempos de faculdade. Provavelmente, o meu primeiro caderno. Sim, porque a letra ainda era linda, aquela letra digna de uma nota dez no caderno de caligrafia. Não que hoje a minha letra seja ilegível, mas devo reconhecer que mudou bastante! Até parece ‘’letra de médico’’ aquela que é tão criticada por todo mundo, e que gerou até um artigo no Código de Ética Médica, que diz que “é vedado ao médico receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível”.
Hoje, na maioria dos consultórios particulares, os médicos já usam computador e impressora, o que resolve o problema das receitas incompreensíveis. Mas no serviço público, isso ainda é uma utopia, então, nossos colegas que procurem escrever de forma legível. Há um tempo atrás, um colega meu foi abordado por uma paciente para interpretar uma receita que ele mesmo escrevera, e nem mesmo ele conseguiu entender!! Terminou consultando novamente a mulher. Não, minha letra não chega a esse ponto! Apenas estou dizendo que ela já não é mais tão bonita quanto antigamente...
Mas, por que será que a letra dos médicos em geral é tão difícil de entender?
Começa na faculdade. Aulas e mais aulas, tendo que anotar tudo e não perder nenhum detalhe, além do que já tem nos livros.  Depois, quando ingressamos mesmo na vida profissional, continua a correria para dar conta de tudo. Não estou falando em correria para ir de um emprego a outro. Estou falando do excesso de demanda para atender, dos inúmeros relatórios para preencher, formulários, registro em prontuário, receituário, solicitação de exames e etc etc!!
Dando como exemplo uma Unidade de Saúde da Família, onde atendemos pessoas de 0 a 100 anos. Vamos entender um pouco nossa rotina numa segunda-feira, dia em que a prioridade de atendimentos é para o grupo de hipertensos e diabéticos. Entra a primeira paciente, Dona Maria, 60 anos, hipertensa, diabética, portadora também de osteoporose, dislipidemia, e mais uma infinidade de queixas. Então, depois de ouvir a paciente e fazer o exame físico necessário, registro tudo no prontuário. Preencho uma receita para a pressão e o diabetes. Como ela toma dois medicamentos para osteoporose, tenho que escrever  mais duas receitas, pois um ela recebe na Secretaria Municipal de Saúde e outro na Estadual. Para cada um deles, tenho que preencher um relatório, com uma justificativa. Também o medicamento para dislipidemia precisa de mais uma receita e mais um  relatório.   Como está havendo uma epidemia de Dengue, e Dona Maria tem sintomas sugestivos da doença, tenho que solicitar mais exames e também preencher uma ficha de notificação. Enquanto isso, do lado de fora, uma fila de pessoas aguarda, já reclamando da demora da consulta. Considerando que a média de atendimentos é de 16 pessoas por turno, dá para entender porque minha letra mudou?

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