sábado, 21 de maio de 2011

Eu tenho um local...

Dra. Fulana era uma pessoa de um temperamento  intempestivo, dessas que falam primeiro  para depois pensar. Às vezes engraçada, outras,  inconveniente, mas como profissional, era muito competente. Muitas vezes, até era explorada pela comunidade, acostumada a pedir “consultas extras” fora do expediente de trabalho, até mesmo em sua casa, sem cobrar nada.
Trabalhamos juntas em uma dessas cidades por onde andei, Brasil a fora. Trabalhávamos em um hospital, dando plantões e atendendo em ambulatório. No interior, médico não tem essa história de só atender uma especialidade, tem que fazer mesmo de tudo um pouco, atender crise de vermes, mulher gestante, idoso com pressão alta, “bico de papagaio”, “ataque de nervos”, etc, etc.
Numa das vezes em que fazíamos ambulatório, estávamos atendendo em consultórios vizinhos, quando ela me chamou para opinar sobre uma paciente. Era uma adolescente, quase uma criança ainda, acompanhada por sua mãe. Apresentava uma lesão muito suspeita, parecia mesmo uma DST (Doença Sexualmente Transmissível). Ela estava em duvida, pois a menina ainda era quase uma criança...
Ficamos em dúvida, eu e ela, de como abordar aquela mãe, na tentativa de descobrir quais as possibilidades daquilo ser mesmo uma DST. Com muito tato, começamos a indagar sobre os costumes da família, se a casa era muito frequentada, se a menina tinha muitos amigos rapazes, e a tudo a mulher respondia que não. Era uma menina caseira, não gostava de sair, quase não tinha amigos, era tímida...
-  Mas, minha senhora, não tem nenhum lugar que ela vá que seja frequentado por mais gente, especialmente por homens? – perguntou Dra. Fulana.
A mulher ficou pensativa e depois, num impulso, respondeu:
- Ah, lembrei!!! Eu tenho um local...
E antes que a mulher concluísse a frase, a Dra. Fulana olhou para mim e falou:
- Eu não falei?!?!? Ela tem um cabaré!!! Tem uma “casa de recurso”!
Eu gelei, perdi a cor, perdi a fala... E a mulher, coitada, parou, atônita, olhando para nós, com cara de espanto. Eu pensei, “é agora que vamos apanhar”!
Depois de passado o susto, a mulher começou a rir, quase sem conseguir parar, até que por fim falou:
- Não, Doutora... eu tenho um local na feira... uma banquinha de vender verduras, e é muito frequentada...
Ainda bem que a mulher tinha senso de humor, e levou tudo na esportiva!

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